Perdi tanto tempo pensando no passado, pensando nele, no que poderia ter acontecido e no que aconteceu. Coisa tão fútil, tão sem nexo, bobagens que vagam na minha cabeça. Sinceramente, tô cansada, sem saco, sem tempo e sem vontade pra isso. Não é que isso seja totalmente involuntário, mas de certa forma é quase como se fosse um incômodo lembrete toda vez que penso em um outro alguém. Ainda é difícil aceitar certas coisas, por mais claras e simples que sejam. A dor da perda, do orgulho ferido e da estranha sensação de não ser mais especial para aquela pessoa ainda viva dentro do peito mesmo depois de tanto tempo é a coisa que mais detesto nisso tudo. Não é por querer, não é questão de dar ou não o braço a torcer, mas sim de aceitar de corpo e alma, e não estou falando de razão, pois esta já compreendeu muito bem a situação, exceto o coração.
Para entender um pouco o que se passa, imagine que você terminou um namoro conturbado, intenso e reprimido há algum tempo considerável. Durante esse tempo, para curar o coração partido e o ego ferido, você tratou de cuidar da sua vida acadêmica, profissional, e, por escolher focar-se nessas áreas, acabou esquecendo um pouco de si mesmo. Você ainda teve alguns rápidos relacionamentos, continuou a conhecer novas pessoas, se afastar de outras, enfim, não deixou de renovar/reciclar seu círculo social, mas nunca mais sentiu voluntária ou involuntariamente "aquilo" por alguém. Talvez por mera expectativa ou pela falta dela a pessoa pode ter passado despercebida, assim como pode nem ter tido chance de aparecer, ou ainda não estava preparada para tal. De toda a forma, passaram-se alguns anos e sua vida evoluiu, tomou novos ares, nova realidade e até mesmo você se sente diferente em vários sentidos. O pensamento naquela pessoa já não é mais tão doloroso e nem tão mais frequente, assim como a raiva e a dor. Tudo parece mais claro, menos dramático, mais fácil de solucionar. Com o foco em outras coisas, você acaba realmente esquecendo por um tempo da pessoa, na medida em que outras prioridades tomam seu lugar.
Contudo, a vida tem lá suas artimanhas, e Deus algumas vezes nos dá certos caminhos um pouco difíceis de se compreender a princípio. É então que, em um dia tranquilo e normal, entra uma pessoa na sua vida e muda alguns aspectos dela por um bom tempo. Principalmente se for a atual namorada do seu ex mais marcante até então. Pois é, situação complicadíssima essa, onde você procura não procurar lembranças dessa pessoa, entretanto elas vem a você, estilo "se Maomé não vem à montanha, a montanha vem até Maomé". De cara, quem não ficaria confuso ao ser indagado por alguém "aparentemente interessada no seu ex" se havia rolado algum sentimento entre vocês? E como diabos essa criatura conseguiu meu contato? E pra quê vem me fazer esse tipo de pergunta? Isso me deixou muito pensativa e muito incomodada. Tanto que, ao ver essa estranha situação, procurei tirar a história a limpo, mas por outro lado sabia que teria de encarar algo bem mais difícil: engolir o orgulho e fazer as pazes com o antigo amado.
Pra ser sincera, a certa altura eu já não me importava muito com o que pensariam ou deixariam de pensar sobre isso, e de algum modo eu me sentia aliviada em ter algum pretexto para voltar a ter contato e tentar esclarecer algumas coisas que ficaram inacabadas e mal explicadas. Correu tudo bem, apesar de certos desencontros e mal entendidos, porém com o passar do tempo esse contato com eles foi ficando cada vez mais perigoso, não por questões de segurança, mas em relação à integridade da minha regeneração sentimental (ou no popular, rolou uma dor de cotovelo!). Percebi que eu voltara a me incomodar com certas coisas que eu já tinha aceitado na boa, como o fato de ele se envolver com outras pessoas e de ter relacionamentos mais longos e intensos. Provavelmente isso deve ocorrer com todos aqueles que ousam romper aquele tabu de se manter à distância do ex, ou ao menos daquele que deixou alguma coisa pra trás em você. Pode ser que trate-se apenas de um sentimento bobo de posse e orgulho, assim como podem ser indícios de algum sentimento mal resolvido. Eu sei que não há a menor possibilidade de surgir algo entre nós novamente, por diversos motivos, incluindo o fato de que, se houver mesmo algum sentimento, este não é mais recíproco. No fim, apesar de toda essa repentina confusão que se instalou na minha vida, busquei formas de me livrar desse estranho incômodo em mim, e a primeira providência que fiz foi me afastar dessas duas pessoas, que além de fazerem um inferno para si mesmas, ainda conseguiam atingir quem não tinha mais nada a ver com isso. Com isso, procurei me espiritualizar mais, busquei Deus (embora admita que ainda não sou lá uma boa filha), tentei me concentrar mais nas coisas que deixei largadas e mudei certos hábitos, tudo em prol do bem estar e da paz de espírito. Agora reservo um pouco mais de tempo pra mim, não quero mais sofrer nem gastar meu pobre coração com coisas sem valor. Vi que há vezes, ou melhor, sempre devemos dar valor àquilo que nos dá valor, que nos deixa felizes, e não o contrário. Ainda tem tanta gente por aí querendo ser feliz, querendo me fazer feliz, sem saber bem como e quando. Citando meu querido Barão Vermelho,
"pra que perder tempo desperdiçando emoções, grilar com pequenas provocações? Ataco, se isso for preciso; sou eu quem escolho e faço os meus inimigos (...) Saudações aos que tem coragem, aos que tão aqui pra qualquer viagem... Não fique esperando a vida passar tão rápido, a felicidade é um estado imaginário!".